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sexta-feira, setembro 15, 2006

Declarado Filho de Deus - Calvino

“Declarado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade, pela ressurreição dos mortos; sim, Jesus Cristo, nosso Senhor, por meio de quem recebemos graça e apostolado, para a obediência da fé entre todas as nações, por amor do seu nome...” Rm 1.4-6)

DECLARADO FILHO DE DEUS. Ou determinado ( definitus). Paulo está dizendo que o pode da ressurreição representava o decreto pelo qual, como se acha no Salmo 2.7, Cristo foi DECLARADO Filho de Deus: “Neste dia eu te gerei” – GERAR, aqui, tem referência àquilo que foi feito conhecido. Certos intérpretes encontram nesta passagem três provas distintas da divindade de Cristo.

A PRIMEIRA é o PODER (pelo qual compreendem os milagres).
A SEGUNDA é o TESTEMUNHO do Espírito; e a
TERCEIRA é a RESSURREIÇÃO dentre os mortos.

Prefiro, contudo, juntar estas três provas e sumariá-las assim: Cristo foi declarado Filho de Deus pelo exercício público de um verdadeiramente celestial, ou seja, o poder do Espírito Santo, quando ele ressuscitou dos mortos. Este poder é possuído quando é selado pelo mesmo Espírito em nossos corações.

A linguagem do apóstolo apóia esta interpretação. Ele afirma que Cristo foi declarado com poder, porque foi visto nele o poder que com propriedade pertence a Deus, e o qual comprovava além de qualquer dúvida que Cristo era Deus. Isto na verdade se fez ainda mais evidente em sua ressurreição, assim como Paulo alhures, após declarar que a fraqueza da carne se fez manifesta na morte de Cristo, exalta o pode do Espírito em sua ressurreição (2Co 13.4).

Esta glória, contudo, não se nos fez notória até que o mesmo Espírito a imprimisse em nossos corações. O fato de Paulo também incluir a evidência que os crentes individualmente experimentam em seus próprios corações com o espantoso poder do Espírito, o qual Cristo manifestou ao ressuscitar dos mortos, é claro de sua expressa menção da santificação. É como se dissesse que o Espírito, ao mesmo tempo que santifica, também confirma e ratifica essa prova de seu poder que uma vez demonstrou.

As Escrituras com freqüência atribuem títulos ao Espírito de Deus, os quais servem para elucidar nossa presente discussão. Daí o Espírito ser chamado por nosso Senhor de o ESPÍRITO DA VERDADE (Jo 14. 17), em razão de seu efeito como
descrito nesta passagem. Além do mais, diz-se que o poder divino foi exibido na ressurreição de Cristo, visto que ele ressuscitara por seu próprio poder, como ele mesmo testificou: “Destruí este templo, e em três dias o reconstruirei’ (Jo 2.19); “ninguém a toma (minha vida) de mim” (Jo 10.18). Cristo triunfou sobre a morte, à qual se entregou em razão da debilidade de sua carne, triunfou este não em virtude de algum auxílio externo, mas pela operação celestial de seu próprio Espírito.

POR MEIO DE QUEM RECEBEMOS GRAÇA E APOSTOLADO – Uma vez completada sua definição de evangelho, o qual ele introduziu com o fim de encomiar seu ofício, Paulo agora volta a defender sua própria vocação, pois se lhe constituía numa questão de suprema importância com vista a que este ofício granjeasse a aprovação dos (cristãos ) de Roma.

Ao fazer distinção entre GRAÇA e APOSTOLADO, Paulo está empregando uma figura de linguagem – HYPALLAGE – para significar, ou o apostolado graciosamente concedido, ou a graça do apostolado. Ao falar assim, ele deixa implícito que sua designação para tão sublime ofício era totalmente obra do divino favor, e não de seus próprios méritos. Ainda que aos olhos do mundo seu ofício não agasalhasse nada senão perigo, fadiga, ódio e desgraça, todavia, aos olhos de Deus e de seus santos, ele não possui virtude comum nem ordinária, e deve, portanto, ser atribuído a graça. A tradução RECEBI GRAÇA PARA SER APÓSTOLO seria preferível, e desfruta do mesmo significado.

A expressão, POR AMOR DE SEU NOME, é explicada por Ambrósio como significando que o apóstolo foi designado no lugar de Cristo para pregar o evangelho, como ele mesmo diz em 2 Coríntios 5.20: “Somos embaixadores em nome de Cristo”. A melhor interpretação, entretanto, tudo indica ser aquela que toma NOME no sentido do CONHECIMENTO, pois o evangelho é pregado a fim de vermos a crer no nome do Filho de Deus (1Jo 3.23). Ao próprio Paulo é dito que seria ele um vaso escolhido para levar o nome de Cristo aos gentios (At 9.15). POR AMOR DE SEU NOME, portanto, contém o mesmo sentido de QUE EU POSSA FAZER CONHECIDO O CARÁTER DE CRISTO.

PARA OBEDIÊNCIA – Ou seja, temos recebido o mandamento de levar o evangelho a todos os gentios para que obedeçam pela fé. Ao afirmar o propósito de sua vocação, Paulo outra vez lembra os romanos de seu ofício, como se quisesse dizer: “É meu dever desincumbir-me da responsabilidade a mim confiada, que é a de pregar a Palavra. A vossa responsabilidade é ouvir a Palavra e obedecer-lhe cabalmente, a não ser que queiras invalidar a vocação com a qual o Senhor me revestiu”.

Deduzimos disto que os que irreverente e desdenhosamente rejeitam a pregação do evangelho, cujo propósito é conduzir-nos à obediência a Deus, estão obstinadamente resistindo ao poder de Deus e pervertendo sua ordem como um todo. É preciso que observemos também, aqui, a natureza da fé. Ela é referida como OBEDIÊNCIA, visto que o Senhor nos chama através do evangelho, e respondemos pela fé. Àquele que nos chama. Portanto, em contrapartida, a incredulidade é a fonte de toda a nossa internacional desobediência a Deus. Prefiro a tradução à OBEDIÊNCIA DA FÉ, em vez de PARA OBEDIÊNCIA, visto que , exceto metaforicamente, a última não é estritamente correta, embora seja usada uma vez em Atos 6.7. FÉ é propriamente aquele elemento por meio do qual obedecemos ao evangelho.

ENTRE TODAS AS NAÇÕES. Para Paulo, haver sido designado apóstolo não era suficiente, a menos que seu ministério fosse referendado por meio da ação de fazer discípulos. Ele, pois, acrescenta que seu apostolado se estende a todos os gentios. Mais adiante refere-se a si mais distintamente como o apóstolo para os romanos, quando diz que eles também figuram no número das nações às quais ele foi designado ministro.

Os apóstolos também participam do comum mandamento de pregar o evangelho ao mundo inteiro. Não foram nomeados para certas igrejas como pastores ou bispos. Paulo, em adição à sua responsabilidade geral para a função apostólica, foi nomeado com especial autoridade como ministro para pregar o evangelho entre as nações. Não há contradição alguma diante da declaração de que lhe foi proibido passar por Bitínia e pregar a Palavra em Mísia (At 16.6-8). O propósito de tal proibição não consistia em que sua obra devesse ser limitada a certa área, mas porque era preciso que ele fosse a outro lugar ao mesmo tempo, visto que a colheita ali não estava ainda plenamente madura.

CHAMADOS PARA SERDES DE JESUS CRISTO – Paulo oferece uma razão mais estritamente relacionada com a Igreja de Roma, visto que o Senhor já lhes havia dado um sinal por meio do qual ele declarava que os estava chamando à participação do evangelho. Seguia-se deste fato que, se porventura queriam ter sua própria vocação bem estabelecida, então que não rejeitassem o ministério de Paulo, porquanto ele fora escolhido pela mesma eleição do Senhor. Eu, portanto, tomo esta cláusula – CHAMADO PARA SERDES DE JESUS CRISTO – como uma frase explicativa, como se a partícula A SABER fosse inserida. O apóstolo pretende dizer que eles eram participantes de Cristo através de Sua vocação. Os que são destinados a tornarem-se herdeiros da vida eterna são não só escolhidos por seu Pai celestial a tornarem-se seus filhos, mas uma vez escolhidos, são igualmente confiados ao seu cuidado, e ele é dignificado como seu Pastor.